domingo, 13 de maio de 2018

Milagres ou engano para atrair multidões e alimentar a ganância

E convém que tenhamos sempre em mente que Satanás tem seus milagres, os quais, embora sejam falazes ilusionismos, antes que genuínos prodígios, entretanto são de tal natureza, que podem seduzir os desavisados e simplórios [2Ts 2.9, 10]. Mágicos e encantadores sempre se destacaram por seus milagres. A idolatria sempre foi nutrida por milagres de causar pasmo. Contudo, eles não legitimam nossa superstição, nem dos magos, nem dos idólatras.

E com esta armadilha, os donatistas, outrora, abusavam da simplicidade da população, de que eram poderosos em milagres. Portanto, agora respondemos a nossos adversários, o mesmo que Agostinho respondeu então aos donatistas: o Senhor nos acautelou contra esses milagreiros quando predisse que haveriam de vir falsos profetas, os quais, em virtude de sinais mentirosos e prodígios vários, induziriam os eleitos ao erro, se isso pudesse acontecer [Mt 24.24]. E Paulo advertiu que o reino do Anticristo haverá de vir com todo poder, e sinais, e prodígios enganosos [2Ts 2.9].

Mas, insistem eles, esses milagres não são operados por ídolos, nem por mistificadores, nem por falsos profetas, mas pelos santos. Como se na verdade não soubéssemos que esta é a artimanha de Satanás: transformar-se em anjo de luz [2Co 11.14]. Em tempos idos, os egípcios cultuaram a Jeremias, sepultado em seu meio, com sacrifícios e outras honras divinas. Porventura não estavam abusando do santo profeta de Deus para os fins de sua idolatria? E no entanto com tal veneração de seu sepulcro chegavam ao ponto de pensar que, como justa recompensa disso, eram curados da picada de serpentes! Que diremos, senão que sempre foi esta, e haverá de sempre ser, a mui justa punição de Deus: enviar a eficácia do erro àqueles que não têm recebido o amor da verdade, para que creiam na mentira [2Ts 2.11]?

Portanto, de modo nenhum nos faltam milagres, e esses não são passíveis de dúvida, nem suscetíveis a zombarias. Aqueles, porém, aos quais eles apelam em seu abono, são meros embustes de Satanás, uma vez que desviam o povo do verdadeiro culto de seu Deus para o engano.

João Calvino, As Institutas, ou Tratado da Religião Cristã Vol. 1, Edição Clássica (Latim) - Carta de Calvino ao Rei Francisco, da França (Primeira edição publicada em 1536).
Disponível em: http://www.protestantismo.com.br/institutas/joao_calvino_institutas1.pdf
Pg 30-31.

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