terça-feira, 23 de agosto de 2011

Do Livro de Jó


Depois disto o Senhor respondeu a Jó de um redemoinho, dizendo:

Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora cinge os teus lombos, como homem; e perguntar-te-ei, e tu me ensinarás.

Onde estavas tu, quando eu fundava a terra?
Faze-mo saber, se tens inteligência.
Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes?
Ou quem estendeu sobre ela o cordel?
Sobre que estão fundadas as suas bases,
ou quem assentou a sua pedra de esquina,
Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam,
e todos os filhos de Deus jubilavam?
Ou quem encerrou o mar com portas,
quando este rompeu e saiu da madre;
Quando eu pus as nuvens por sua vestidura,
e a escuridão por faixa?
Quando eu lhe tracei limites,
e lhe pus portas e ferrolhos,
E disse: Até aqui virás, e não mais adiante,
e aqui se parará o orgulho das tuas ondas?
Ou desde os teus dias deste ordem à madrugada,
ou mostraste à alva o seu lugar;
Para que pegasse nas extremidades da terra,
e os ímpios fossem sacudidos dela;
E se transformasse como o barro sob o selo,
e se pusessem como vestidos;
E dos ímpios se desvie a sua luz,
e o braço altivo se quebrante;
Ou entraste tu até às origens do mar,
ou passeaste no mais profundo do abismo?
Ou descobriram-se-te as portas da morte,
ou viste as portas da sombra da morte?
Ou com o teu entendimento chegaste às larguras da terra?
Faze-mo saber, se sabes tudo isto.
Onde está o caminho onde mora a luz?
E, quanto às trevas, onde está o seu lugar;
Para que as tragas aos seus limites,
e para que saibas as veredas da sua casa?
De certo tu o sabes, porque já então eras nascido,
e por ser grande o número dos teus dias!
Ou entraste tu até aos tesouros da neve,
e viste os tesouros da saraiva,
Que eu retenho até ao tempo da angústia,
até ao dia da peleja e da guerra?
Onde está o caminho em que se reparte a luz,
e se espalha o vento oriental sobre a terra?
Quem abriu para a inundação um leito,
e um caminho para os relâmpagos dos trovões,
Para chover sobre a terra, onde não há ninguém,
e no deserto, em que não há homem;
Para fartar a terra deserta e assolada,
e para fazer crescer os renovos da erva?
A chuva porventura tem pai?
Ou quem gerou as gotas do orvalho?
De que ventre procedeu o gelo?
E quem gerou a geada do céu?
Como debaixo de pedra as águas se endurecem,
e a superfície do abismo se congela.
Ou poderás tu ajuntar as delícias do Sete-estrelo
ou soltar os cordéis do Órion?
Ou produzir as constelações a seu tempo,
e guiar a Ursa com seus filhos?
Sabes tu as ordenanças dos céus,
ou podes estabelecer o domínio deles sobre a terra?
Ou podes levantar a tua voz até às nuvens,
para que a abundância das águas te cubra?
Ou mandarás aos raios para que saiam, e te digam:Eis-nos aqui?
Quem pôs a sabedoria no íntimo,
ou quem deu à mente o entendimento?
Quem numerará as nuvens com sabedoria?
Ou os odres dos céus, quem os esvaziará,
Quando se funde o pó numa massa,
e se apegam os torrões uns aos outros?
Porventura caçarás tu presa para a leoa,
ou saciarás a fome dos filhos dos leões,
Quando se agacham nos covis,
e estão à espreita nas covas?
Quem prepara aos corvos o seu alimento,
quando os seus filhotes gritam a Deus e andam vagueando,
por não terem o que comer?
Jó 30:1-41

Sabes tu o tempo em que as cabras montesas têm filhos,
ou observastes as cervas quando dão suas crias?
Contarás os meses que cumprem,
ou sabes o tempo do seu parto?
Quando se encurvam, produzem seus filhos,
e lançam de si as suas dores.
Seus filhos enrijam, crescem com o trigo;
saem, e nunca mais tornam para elas.
Quem despediu livre o jumento montês,
e quem soltou as prisões ao jumento bravo,
Ao qual dei o ermo por casa,
e a terra salgada por morada?
Ri-se do ruído da cidade;
não ouve os muitos gritos do condutor.
A região montanhosa é o seu pasto,
e anda buscando tudo que está verde.
Ou, querer-te-á servir o boi selvagem?
Ou ficará no teu curral?
Ou com corda amarrarás, no arado, ao boi selvagem?
Ou escavará ele os vales após ti?
Ou confiarás nele, por ser grande a sua força,
ou deixarás a seu cargo o teu trabalho?
Ou fiarás dele que te torne o que semeaste
e o recolha na tua eira?
A avestruz bate alegremente as suas asas,
porém, são benignas as suas asas e penas?
Ela deixa os seus ovos na terra, e os aquenta no pó,
E se esquece de que algum pé os pode pisar,
ou que os animais do campo os podem calcar.
Endurece-se para com seus filhos,
como se não fossem seus;
debalde é seu trabalho, mas ela está sem temor,
Porque Deus a privou de sabedoria,
e não lhe deu entendimento.
A seu tempo se levanta ao alto;
ri-se do cavalo, e do que vai montado nele.
Ou darás tu força ao cavalo,
ou revestirás o seu pescoço com crinas?
Ou espantá-lo-ás, como ao gafanhoto?
Terrível é o fogoso respirar das suas ventas.
Escarva a terra, e folga na sua força,
e sai ao encontro dos armados.
Ri-se do temor, e não se espanta,
e não torna atrás por causa da espada.
Contemplas agora o beemote, que eu fiz contigo,
que come a erva como o boi.
Eis que a sua força está nos seus lombos,
e o seu poder nos músculos do seu ventre.
Quando quer, move a sua cauda como cedro;
os nervos das suas coxas estão entretecidos.
Os seus ossos são como tubos de bronze;
a sua ossada é como barras de ferro.
Ele é obra-prima dos caminhos de Deus;
o que o fez o proveu da sua espada.
Em verdade os montes lhe produzem pastos,
onde todos os animais do campo folgam.
Deita-se debaixo das árvores sombrias,
no esconderijo das canas e da lama.
As árvores sombrias o cobrem, com sua sombra;
os salgueiros do ribeiro o cercam.
Eis que um rio transborda, e ele não se apressa,
confiando ainda que o Jordão se levante até à sua boca.
Podê-lo-iam porventura caçar à vista de seus olhos,
ou com laços lhe furar o nariz?
Jó 39:1-24

Poderás tirar com anzol o leviatã,
ou ligarás a sua língua com uma corda?
Podes pôr um anzol no seu nariz,
ou com um gancho furar a sua queixada?
Porventura multiplicará as súplicas para contigo,
ou brandamente falará?
Fará ele aliança contigo,
ou o tomarás tu por servo para sempre?
Brincarás com ele, como se fora um passarinho,
ou o prenderás para tuas meninas?
Os teus companheiros farão dele um banquete,
ou o repartirão entre os negociantes?
Encherás a sua pele de ganchos,
ou a sua cabeça com arpões de pescadores?
Põe a tua mão sobre ele, lembra-te da peleja,
e nunca mais tal intentarás.
Eis que é vã a esperança de apanhá-lo;
pois não será o homem derrubado só ao vê-lo?
Ninguém há tão atrevido, que a despertá-lo se atreva;
quem, pois, é aquele que ousa erguer-se diante de mim?
Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe?
Pois o que está debaixo de todos os céus é meu.
Não me calarei a respeito dos seus membros,
nem da sua grande força,
nem a graça da sua compostura.
Quem descobrirá a face da sua roupa?
Quem entrará na sua couraça dobrada?
Quem abrirá as portas do seu rosto?
Pois ao redor dos seus dentes está o terror.
As suas fortes escamas são o seu orgulho,
cada uma fechada como com selo apertado.
Uma à outra se chega tão perto,
que nem o ar passa por entre elas.
Umas às outras se ligam; tanto aderem entre si,
que não se podem separar.
Cada um dos seus espirros faz resplandecer a luz,
e os seus olhos são como as pálpebras da alva.
Da sua boca saem tochas;
faíscas de fogo saltam dela.
Das suas narinas procede fumaça,
como de uma panela fervente,
ou de uma grande caldeira.
O seu hálito faz incender os carvões;
e da sua boca sai chama.
No seu pescoço reside a força;
diante dele até a tristeza salta de prazer.
Os músculos da sua carne estão pegados entre si;
cada um está firme nele, e nenhum se move.
O seu coração é firme como uma pedra
e firme como a mó de baixo.
Levantando-se ele, tremem os valentes;
em razão dos seus abalos se purificam.
Se alguém lhe tocar com a espada,
essa não poderá penetrar,
nem lança, dardo ou flecha.
Ele considera o ferro como palha,
e o cobre como pau podre.
A seta o não fará fugir;
as pedras das fundas se lhe tornam em restolho.
As pedras atiradas são para ele como arestas,
e ri-se do brandir da lança;
Debaixo de si tem conchas pontiagudas;
estende-se sobre coisas pontiagudas como na lama.
As profundezas faz ferver, como uma panela;
torna o mar como uma vasilha de ungüento.
Após si deixa uma vereda luminosa;
parece o abismo tornado em brancura de cãs.
Na terra não há coisa que se lhe possa comparar,
pois foi feito para estar sem pavor.
Ele vê tudo que é alto;
é rei sobre todos os filhos da soberba.
Jó 41:1-34

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